AS FÁBULAS FOTOGRÁFICAS DE CARL KLEINER
A fotografia é o que fizermos dela; para realismo, basta-nos prosseguir com as nossas vidas. E é por isso que trabalhos como os de Carl Kleiner merecem a nossa atenção: trata-se de objectos feitos sujeitos - ou sujeitos feitos objectos -, como actores à frente de um cenário, nas suas marcações de palco. São fábulas fotográficas, cuja moral da história fica ao critério de cada um.
Skanska
Stadium
Macho
Monoprix

A objectiva de um fotógrafo profissional nunca cessa de se ajustar às infinitas realidades capturadas pelo olho artístico. No caso do sueco Carl Kleiner isso é, mais do que uma evidência, a sua ética de trabalho. Já trabalhou com clientes como a MTV ou a Amnistia Internacional, mas o seu portefólio prova que a sua visão artística a nada nem a ninguém se compromete, se não ao próprio mundo e ao que se pode construir com ele.
A sua inspiração provém do lado emocional dos sujeitos perante a sua câmara. Paradoxalmente, estes sujeitos são, muitas vezes, objectos no sentido literal da palavra. Veja-se a série fotográfica "Stadium", que reorganiza toda a nossa noção do atleta e do seu esforço como figura central e heróica do desporto.
Apresentando um estilo de composição extraordinariamente preciso, Carl Kleiner coloca-nos, literalmente, nos sapatos - e aqui a expressão inglesa "put yourself in (someone's) shoes" fazia-nos tanta falta -, desses praticantes da maratona, do salto em comprimento; do vencedor, do perdedor.
Voltemos. no entanto, à palavra chave deste fotógrafo: composição. Juntemos isso a uma noção muita exacta de cor e luz e é essa a receita ideal para navegar entre estas obras. "Macho!" é o título de uma outra série fotográfica de Carl Kleiner, que, na sua aparência, não poderia ser mais simples. Mas se até agora isso nos tinha passado despercebido, é aqui que percebemos que este não é apenas o trabalho de um fotógrafo, pronto para disparar o flash a qualquer momento.

Pode dizer-se que nesta estética há quase algo de teatral, na forma como todos os elementos são encenados, no modo como cumprem minuciosamente as suas marcações e vestem os seus figurinos. Estas não são representações que redefinem o conceito de "natureza morta". São as fábulas contadas por personagens que, na nossa vivência do quotidiano, não passam de figurantes.


É nesse cenário surrealista e quase poético que surgem também outros trabalhos, nomeadamente "Skanska" e "Monoprix".

E porque quase todos os objectos que conhecemos são criação do Homem, facilmente nos relacionamos e comunicamos com eles. Não raramente, sofremos por intermédio deles - e aqui voltamos à eterna dicotomia Homem/máquina, que no fundo é um disfarce para uma relação de maior dependência do que julgamos.
"Pressure" será talvez o conjunto de peças que mais diz da nossa sociedade. Não sendo um fotógrafo que se encaixe numa categoria (ele própriio o diz: "Há uma grande variedade de géneros em fotografia e eu interesso-me pela maioria. Se não criarmos para um nicho, nunca vamos aborrecer-nos com o que fazemos"), Carl Kleiner sabe como transmitir uma mensagem. E - sim, vamos novamente relembrar esse cliché profundamente verdadeiro - uma imagem vale mais do que mil palavras.
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